02/10/2014
Delhi - Índia
De passagem por Delhi, a caminho de Leh, pudemos fazer um pequeno tour e escolhemos conhecer o principal templo Sikh da cidade. Belíssimo.
Depois fomos ao templo do Lótus, um dos maiores templos Ba'Hai do mundo. Muito bonito também.
Para terminar fomos a uma disneylândia Hindi, um novo templo Hindu erguido pelos seguidores do Guru SwamiNarayan. Um exemplo de ostentação e propaganda dos feitos do guru, com direito a teatro de bonecos animados, show de fonte luminosa, barquinhos em lago artificial e um templo magnífico, contruído com o dinheiro dos seguidores, em apenas 5 anos. O templo é todo em pedra vermelha do Rajastão e mármore carrara, da Itália. Uma coisa Bollywoodiana! E ainda tem-se que pagar para entrar lá.
Leh - Ladakh - Índia
Agora Leh, capital de Ladakh, uma região que faz parte do estado indiano Jammu-Kashmir, no norte do país, fronteira com o Tibet, Afeganistão e Paquistão. Risco de conflito total. Outra forma de descrever aquilo lá é que parece a capital de um outro fim do mundo bem diferente de Ushuaia, na Argentina.
Mas é belíssima a paisagem. São montanhas da Cordilheira do Himalaia, e muitas delas nevadas no topo. É um destino especial para trekking, mas só para especialistas. Nada de amadorismo aqui. Ainda bem que não vim para isso.
Montanhas Nevadas - Leh |
Leh é fortememente vigiada pelos militares indianos por causa dos conflitos de fronteira. Tem base aérea com aqueles aviões imensos tipo búfalo, que é para despejar a milicada nas montanhas, única maneira de ter acesso a elas.
Nossa chegada em Leh foi pitoresca. Deveria ter um guia no aeroporto, mas não encontramos ninguém. E quase ninguém também falava o inglês por lá. Tinha lá uma mesinha com um cara sentado num tamborete e em cima escrito "check-inn for foreigners". Entreguei meu passaporte e o cara quando viu de onde era começou a solfejar "Aquarela do Brasil". Acreditam? Nem eu.
Foi esse cara que nos socorreu, mais ou menos, para conseguirmos um taxi que nos levasse ao hotel. Mostrei a ele nossos papéis, ele chamou um taxi, negociou e nos disse o preço e mandou que o cara nos levasse até lá. Entramos num carrinho quadrado e minúsculo e o cara foi dirigindo, e saindo da cidade conosco. Chegamos enfim num lugar com tendas infladas, que mais parecia um acampamento escoteiro, cheio de malucos. O lugar era um muquifo, deu vontade de chorar, mas ria imaginando o que pensava o Zeca.
Veio de lá de dentro alguém que arranhava o inglês e eu perguntei se ali era ali mesmo. E o cara disse que sim. Comecei a tentar me conformar com a roubada em que havíamos nos metido. Daqui a pouco entra o Zeca e diz que havia perguntado para uma gringa malucona se aquele era o hotel Shangrilá e que ela tinha dito que não. Chamei o cara que me recebeu e perguntei novamente se aquele era o Hotel Shangrilá, ao que ele me respondeu que não. Então pedi a ele que telefonasse para o numero que tínhamos em nosso voucher para que alguém viesse nos resgatar dali. Ele foi extremamente gentil, nos serviu chá e omelete, e finalmente disse que alguém estava a caminho. Ufa! O hotel que ficamos depois parece um 10 estrelas, apesar de só ter umas 2, perto daquele primeiro. Mas o cara de lá foi generoso e ganhou algumas estrelas no karma bom dele.
A internet em Leh não funcionava, por isso fiquei sem contato com o nosso mundo pelo tempo que lá estive.
Mais mosteiros budistas e a visão espetacular de um deserto com água.
De Leh partimos para um vale chamado Nubra. A ideia era que dormíssemos em tendas ao tempo, mas recusamos porque fazia um frio lascado. Foi a decisão mais acertada.
No caminho para o vale estivemos no lugar mais alto e mais frio em que já estive até hoje, a passagem de Khardungla. 5.603 metro acima do nível do mar. Eles dizem que é a mais alta estrada de rodagem do mundo. Estou acreditando. A passagem está rodeada de montanhas geladas. Impressionante!
O vale do Nubra também é espetacular, mas não precisava fazer tanto frio. Fica bem próximo da fronteira com o Paquistão. É um vale com dunas de areia e montanhas por todo lado. Já falei que faz frio pra capeta? Fazia tanto frio que às vezes pensava que meus ossos iam se partir. Pra piorar, o hotel em que estávamos só tinha comida vegetariana e ainda estressei com o Zeca. Tava indo bem demais...
Vale do Nubra - vila de Hunder |
Vale do Nubra - Ladakh - Índia
No Nubra também tem camelos para montar, como em Genipabu-RN, com a diferença que lá eles são nativos.
O hotel em que estive hospedado era vegetariano, e acho que depois desta experiência nunca serei vegetariano, não de carteirinha. Como faz falta um pedaço de carne! Se demorássemos muito acabaria mordendo meus próprios dedos durante a refeição. Preciso de carne!
As caminhadas foram legais, mas antes tínhamos que pagar pedágio indo a algum mosteiro com algo maior ou melhor que todos os outros. Quem será que nos ensinou isso?
Ficamos 3 dias completamente ausentes do mundo, sem internet ou celular. Foi quase um reaprendizado de como sobreviver à falta destas modernidades.
O que aprendi até agora sobre os mosteiros e templos budistas é que eles sempre precisavam ser construídos nos lugares mais inóspitos como topos ou encostas de montanhas. Caraca, como os caras gostam de sofrer! Mas acho que isso ainda é melhor que não ter o que comer. Talvez por isso eles, os buditas, tenham alcançado, no passado, números tão elevados de monges em cada mosteiro. Hoje as coisas estão mudando e já não há tantos monges assim.
A história do karma vai ficando um pouco mais clara e cada vez me convenço mais de que ele é muito parecido com o nosso bom e velho pecado. Se você faz isso bem, ganha ponto no karma positivo, se faz mal, é descontado. Tudo na base da coerção.
Aos espíritos elevados tudo é permitido e encarado como exemplo. Para a gente comum a mesma coisa pode significar a danação. Exemplo disso é o sexo: para Budha é elevação, mas os simples mortais devem encará-lo apenas como necessidade reprodutiva. O Prazer máximo fica restrito às deidades.
E assim vamos aprendendo um pouco mais sobre as religiões e gostando cada vez menos delas.
Voltamos de Hunder para Leh e continuamos a peregrinação. Em Leh a internet ainda estava na base da Lan house. Isso porque eles dependem do bom funcionamento das comunicações com e em Srinagar, a capital do Estado. Como Srinagar está embaixo d'água por causa das enchentes provocadas pelas monsões, nada está funcionando. Quando você encontra algum lugar com internet ativa o acesso é caro e lento.
Resolvi separar os quartos com o Zeca e só assim pude ter minha primeira noite de sono verdadeiro. Ele ficou puto comigo, mas não aguentava mais o desconforto de não dormir direito. Tomei uma decisão: nunca mais, a não ser em casos muito especiais, viajo com alguém para dormir no mesmo quarto.
Uletopo - Ladakh - Índia
Estivemos num lugar espetacular chamado Moonland. No alto das montanhas existem formações rochosas de argila que lembram muito com as da Capadócia, na Turquia. A diferença é que as daqui são inalcançáveis, por estarem nas encostas das montanhas. Alguns pedaços dessas rochas lembram palácios. O lugar onde ficamos hospedados para ir nesta maravilha se chama Uletopo, e o hotel foi o mais legal de toda a viagem. Um resort simples e confortável, com cabanas ao lado do despenhadeiro que leva ao rio Indus.
Mooland - Uletopo |
Fim de viagem, já estou em Deli, esperando o bonde pra voltar pra casa. Um bagaço e ainda vou trabalhar no domingo.
É fazer uma massagem no hotel e descansar para a viagem de volta.
Até a próxima.
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