22/09/2014
Textos e fotos de Cefas Siqueira
Prometi a mim mesmo que desta vez não iria escrever sobre a viagem, muito menos enviar a vocês por email. Mas se não escrevo, logo, logo, terei esquecido tudo. Além do que eu juro que alguns já mandaram emails perguntando pelos relatos.
Então vamos lá:
Já estou fora de casa há 2 semanas e estou saindo agora da cidade de Punakha, no Butão, em direção a Paro, no mesmo país.
Tudo começou com uma confusão bizarra ainda no aeroporto de Brasília. Meus bilhetes foram comprados com a Qatar Airways, mas o trecho Brasília/São Paulo seria com a Tam. Cheguei ao aeroporto com bastante antecedência e fui direto ao check-in da Tam, onde fui informado que o voo contante do bilhete não existia e que deveria procurar a Gol. Fui até o balcão da Gol e me disseram que aquele numero de voo pertencia à Tam, e eles que resolvessem. Voltei à Tam e pedi logo para falar com o/a gerente. Expliquei a situação à Senhora e esperei uns 15 minutos até ser chamado novamente. Quando me chamaram fui informado que seria embarcado num voo que estava saindo naquele momento. Chegando em SP fui direto para o check inn da Qatar onde relatei o ocorrido. Nem o pessoal daquela companhia entendeu como a Tam me embarcou em Brasília, já que o acordo interno deles é com a Gol. Mistério! O bom é que cheguei a tempo em SP e pude continuar a viagem. Depois de 22 horas de voo, com conexão em Doha, no Qatar, cheguei a Katmandu, no Nepal. Logo depois chegou meu parceiro de viagem, o Zeca (nome fictício para evitar processos), de Porto Alegre.
Katmandu - Nepal
Katmandu bem podia estar na Índia, de tão parecida que é com as cidades daquele país. É extremamente poluída e suja. Parece que eles tem 2 alternativas de poluição: ou poeira ou lama. A pobreza também chama a atenção da gente, por ser gritante. O país não tem muita opção de trabalho e qualquer coisa vira ocupação para a população. A quantidade de gente tentando imigrar para qualquer lugar que ofereça trabalho é grande e pudemos perceber isso nos postos de imigração.
Estivemos na cidade antiga, Bakthapur, onde a arquitetura e os hábitos medievais estão bem preservados.
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Bakthapur - Nepal |
Fomos levados para ver o rio sagrado deles, o Bagmati, e lá pudemos ver vários cadáveres sendo cremados. As diferenças culturais às vezes nos deixam angustiados com o que vemos em outros países, mas a serenidade com que os locais encaram este ritual demonstra a importância e a naturalidade do que nos parece bizarro.
A cidade não tem muito a oferecer ao turista, além de ser a entrada para o turismo de escalada, que é bem forte por aqui, devido a proximidade com as grandes montanhas nevas, como o Kaylash e o Everest.
Em Katmandu fomos informados que havia ocorrido um deslizamento de terra próximo à fronteira com o Tibet, e que teríamos 2 opções na volta para lá: ou gastaríamos mais $250 e viríamos de helicóptero direto da fronteira para Katmandu ou contrataríamos carregadores, que levariam nossas bagagens até depois do deslizamento, depois de 2 horas e meia de caminhada.
Deixamos Katmandu decididos que voltaríamos de helicóptero.
Fomos informados também que teríamos alterações na parte indiana do roteiro, pois não havia condições de irmos à Srinagar, a capital da Cachemira. Isto por causa das monsões, que deixaram a cidade sob as águas. Teremos mudanças, a saber...
De Katmandu seguimos para o Tibet.
Tibet
O Tibet é uma grande surpresa. O dinheiro aplicado pelos chineses no país transformou sua economia e fisionomia, mas não alterou, ainda, sua cultura e religião.
Lhasa, a capital, tem um aspecto moderno na arquitetura e comércio, mas preservou a cidade antiga, onde hoje funciona o comércio tradicional.
É na cidade antiga também onde está o principal templo religioso deles, o Jocam. Budista, é claro.
O comércio tradicional é variado e divertido, bem ao estilo chinês. Tudo muito colorido e ao gosto brasileiro do $1,99.
No dia seguinte à nossa chegada fomos surpreendidos com o sumiço do nosso guia. O cara simplesmente não apareceu no hotel, e nem deu notícia. Saímos por nossa conta pela cidade e fomos resgatados pela agência de turismo no período da tarde.
O povo respira a religião budista aqui. Alguns costumes chamam mais a atenção dos ocidentais. Eles costumam dar 3 voltas em torno do Jocan (Jockang) Temple, e isto durante todo o dia. São centenas de pessoas, vestidas à moda tradicional, numa procissão incessante.
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Mulher tibetana com Wheel prayer |
Outro costume deles, e isto é geral, é andar girando o que eles chamam de roda de oração, ou wheel prayer, uma coisa que parece um bilboquê, mas que gira a bola, enquanto oram para os inumeráveis Budas e demais protetores.
A comida não é mesmo agradável e tenho tido algumas dificuldades. É tudo azedo, e no Tibet eles não comem animais pequenos, por acreditar que isto gera males cármicos. Então, nada de galinha, coelhos e etc. As únicas carnes que eles comem são a de yaki, aquele gado das altitudes, e cabrito. Tenho me virado no segundo.
Em Lhasa estivemos também no Potala Palace, onde residia o Dalai Lama antes de partir para o exílio em 1959. Até hoje os tibetanos aguardam a volta do mestre para retomarem o poder. A China parece não ter conseguido abafar este desejo do povo.
De Lhasa seguimos para a cidade de Gigatsé e no caminho paramos em mais uma porção de templos budistas. Neste trecho da estrada estivemos em altas altitudes, mais de 5.000m. Muito cansativo.
Conhecemos também a cidade antiga de Sakya, onde é praticado outra linha do Budismo, a do chapéu branco. Em Lhasa e na maioria do Tibet é praticada a linha do chapéu amarelo, que é comandada pelo Dalai Lama.
Pernoitamos em Shigatsé e saímos no dia seguinte, de madrugada, em direção à fronteira com o Nepal.
Era nossa esperança visualizar o Monte Everest naquela manhã, mesmo à distância, mas nada feito. O tempo estava muito nublado. Neste dia chegamos a altitude de 5.300m. Muito difícil resprirar e muito frito também.
Durante a travessia do país percebemos que a China é onipresente aqui e exerce forte pressão sobre a população. O povo parece estar num momento de transição entre a tradição e a modernidade. É possível perceber na juvente muitos traços de mudança, notadamente no vestuário, por exemplo. Grande parte dos jovens já se vestem à maneira ocidental.
Aqui eles ainda fazem o controle de velocidade nas estradas à moda antiga. Tão antiga que eu nunca tinha visto isto no Brasil. É assim: o motorista recebe um boleto no início da viagem e vai parando durante o percursso em check points (speed controls) onde vão sendo anotados a quilometragem e a duração de cada trecho, como num rallye de regularidade. Ao final o guarda divide o tempo pela quilometragem e julga se o motorista cumpriu com a velocidade máxima da estrada.
Já ouviram falar em estrada perigosa? Acho que não. Nada se compara a isso aqui.
Chegamos à fronteira do Tibet com o Nepal às 11h30. Depois de fazermos a imigração e atravessar uma ponte estávamos em território nepalês, e com 2 horas menos no relógio.
O guia nepalês que nos esperava acabou com nossas esperanças de voltar para Katmandu de helicóptero. Não havia helicópteros disponíveis. Mas ainda tínhamos 2 opções: ou caminhávamos 2h30 por um caminho seguro, ou caminhávamos 30 minutos numa trilha menos segura e chegaríamos ao outro lado do deslizamento. Deixei o Zeca escolher, pois pra mim era tranquila qualquer escolha. Ele escolheu a caminhada de meia hora e se arrependeu amargamente.
Contrataram os carregadores e, acreditem! Eram duas jovens indianas! Elas ajeitaram nossas bagagens às costas, à moda indiana, com uma faixa que saía da cabeça até a base das bagagens. Vergonhoso, mas eu não ia carregar meus 20kg por uma hora e meia.
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Jovens carregadoras de bagagens |
A diferença entre a limpeza e cuidado do lado Tibetano (China!) com a sujeira e descuido do lado nepalês é gritante. Como água branca e água preta.
Começamos a caminhada por uma trilha no meio da mata e o Zeca já começou a dar sinais de que a coisa seria difícil para ele. Com menos de 15 minutos de caminhada já tínhamos feito a primeira parada. Após uns 40 minutos estávamos caminhando na lama, na encosta provocada pelo deslizamento. A encosta tinha uns 500m de altura e aquilo foi realmente perigoso, pois a qualquer momento poderia ocorrer um novo deslizamento. Loucura passada não é loucura. E o Zeca morrendo.
No fim deu tudo certo e encontramos o carro que nos levou de volta a Katmandu mortos, mas salvos.
Pernoitamos em Katmandu e no dia seguinte pegamos o voo que nos levou ao Butão.
Butão
Chegamos a Paro, cidade/aeroporto, a tempo de almoçar, sob uma chuva torrencial.
O aeroporto de Paro é mesmo emocionante. O piloto faz a aproximação da pista entre as montanhas e ainda tem que fazer uma curva em cima da cabeceira da pista. Só que. Já pouso em Carajás, no Pará, sabe o que é isso.
De Paro fomos de carro para Thimphu, a capital de 40.000 habitantes. Parece um país de brinquedo com rei, rainha e tudo mais.
É um país parado no tempo, com direito a internet, tv hd e tudo mais. As pessoas ainda se vestem à moda tradicional. Os homens vestem vestido (me aguardem no carnaval do Recife ano que vem) e as mulheres sais longas.
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Trajes típicos do Butão |
Além de se chamar Butão os habitantes adoram o pinto (penis) que eles consideram protetor. Eu, heim? Se a bicharada descobre, a população aqui vai aumentar com imigração desenfreada.
De Thymphu fomos para Punacha onde a atividade mais legal foi um raftting legal num rio de velocidade impressionante. Até trouxe a GoPro para gravar isso, mas o Matheus deixou a memória carregada e não gravei mais que o início da explicação do guia. Não era para ter registrado. Mas estou morto de tanto remar. Uma hora puxada!
E tome templos budistas!
De Thymphu viemos para Paro novamente. E tome mais templo budista. Amanhã faremos um trekking até um lugar chamado tiger's nest. 2h30m de caminhada montanha acima. Se sobreviver, conto depois.