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quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Angola 2016


Texto e fotos de Cefas Siqueira

Viajar do Brasil para Angola é um exercício de perseverança que começa na solicitação do visto de entrada naquele país.
O processo burocrático, e põe burocrático nisso, pode levar dias. Eu tive que complementar a documentação exigida pelo consulado angolano em Brasília com novos documentos e declarações de que eu não pretendia fixar residência naquele país e também que iria obedecer as leis locais enquanto lá estivesse. Tudo com firma reconhecida em cartório. Passagem comprada, o dia da viagem chegando, e nada de visto. Só recebi o passaporte de volta um dia antes da viagem. É de quase desistir da viagem pelo tanto que eles são burocráticos. Penso que o governo angolano não tem o menor interesse em receber turistas no país. Por que será?
O país vive uma crise econômica profunda provocada pela crise mundial do petróleo, principal produto de exportação juntamente com o diamante. O desabastecimento atinge todas as áreas, do comércio à indústria. É comum os angolanos viajarem para a Namíbia, Brasil e África do Sul para comprar produtos para suas casas. As mercadorias que chegam aos supermercados logo desaparecem e a reposição pode demorar ou não acontecer.
É comum ver carros com plástico em lugar dos vidros nas janelas. Os ladrões quebram as janelas dos carros para furtar o que estiver no interior do veículo e, como não há vidros para repor os que foram quebrados, eles colam plásticos para poder transitar. Isso é muito comum em Luanda.
A renda está concentrada numa pequena parte da sociedade e a miséria é visível por todo lado. Como em quase toda a África, o capital pertence aos brancos e o trabalho é atividade dos negros.
A população pobre da cidade mora em favelas, como no Brasil, e há um grande número delas por todo lado.
Luanda é uma cidade com alguns prédios modernos misturados às construções históricas, do período da ocupação portuguesa. Não chega a ser feia, mas também não é bonita, e não tem charme.
A baía de Luanda é pequena e a cidade foi ocupando seus arredores.
Baía de Luanda vista do Forte São Miguel

Há muito lixo e sujeira por todo lado. Parece não haver saneamento básico e o lixo se acumula aonde é jogado. As encostas das falésias estão abarrotadas de lixo.
O abastecimento de energia elétrica é precário e os prédios e residências costumam ter seus próprios sistemas de geração, o que provoca poluição do ar e também sonora. As ruas são muito barulhentas.
O trânsito é caótico, mas as pessoas só transitam de carro. Quase não se vê gente andando a pé pelas ruas. Fui desaconselhado várias vezes de sair a pé.
A insegurança é grande e o serviço de segurança privada parece ser dos negócios mais lucrativos. Há segurança privada nas casas da população de classe média, nos prédios, nas ruas, em todo lugar.
A falta de empregos está clara quando se vê a quantidade de vendedores ambulantes pelas ruas. Mulheres carregam nas cabeças bacias com todo tipo de mercadorias: peixe, mandioca, flores, mangas e tudo que se possa imaginar.
Churrasquinho de tudo na rua

A corrupção e o suborno, que eles chamam de “gasosa”, é uma prática comum, e é percebida principalmente quando se lida com policiais, desde os que atuam no trânsito até os que trabalham no aeroporto. É uma praga!
Luanda tem fama de ser uma das cidades mais caras do mundo, e parece que é verdade. Os alugueis chegam a preços inimagináveis, mas a comida tem preços razoáveis. Paguei U$ 230 por noite na "guesthouse" aonde me hospedei. Isso é preço de hotel 4 ou 5 estrelas em outras cidades do mundo.
Dos lugares interessantes em que estive em Luanda, a Fortaleza de São Miguel foi um dos mais bonitos. Construída pelos portugueses bem em frente à baía, há dentro da fortaleza um ambiente com as paredes cobertas de fantásticos azulejos portugueses. Esses azulejos retratam cenas da vida e história do povo angolano como a Rainha Ginga, animais selvagens e frutas nativas. Destaque para as imagens da Palanca Negra, um cervo que é um dos símbolos nacionais.  É realmente um lugar belíssimo.
Azulejos com cena histórica de Angola

Para quem gosta de agitos o lugar ideal é a Ilha de Luanda, com seus bares, restaurantes e casas noturnas.
Gostei muito também do Mussulo, uma península/ilha, aonde os ricos tem casas de veraneio; da praia de Santiago, ao norte de Luanda, onde há um bizarro cemitério de navios de grande porte e de Cabo Ledo, com suas praias ao sul da cidade.
Na praia de Santiago os navios foram abandonados na beira da praia, mesmo na areia, para que a água salgada do mar vá oxidando e corroendo as carcaças, e é o que se vê lá hoje. Por fim, destaco a beleza dos baobás que são encontrados aos milhares por todo o litoral de Luanda. O fruto dessas árvores é usado pela população na alimentação. Há até caipirinha feita com ela.
Cemitério de navios na praia de Santiago

Indo a Angola não deixe de apreciar o Jindungo, uma pimenta parecida com a malagueta que é muito usada na culinária pelos nativos. Mas cuidado! É pra lá de picante.

Foi isso!

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quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Jalapão e Cantão 2016

Textos e fotos por Cefas Siqueira


Num passado recente trabalhei alguns anos pelo estado do Tocantins.

Como estava sempre na correria nunca tive oportunidade de conhecer as belezas daquele Estado. Agora resolvi voltar para satisfazer minha vontade antiga e estive nos parques estaduais do Jalapão e do Cantão, na companhia de amigos muito divertidos. VALEU GALERA!

O JALAPÃO

A primeira descoberta da viagem foi que "Longe é um lugar que existe e que fica perto do, ou no, Jalapão".

O Parque Estadual do Jalapão fica no extremo Leste do Tocantins e é um destino para pessoas pacientes e chegadas numa aventura em meio à natureza. É preciso ser paciente, porque os deslocamentos até os atrativos do parque são bastante demorados. Isso porque os acessos são todos em estradas de terra ou areia, o que dificulta tudo. Pequenas distâncias de 25, 30 quilômetros, podem demorar até três horas em veículos 4X4. Mas sempre vale a pena o sacolejar pelas estradas quando se chega ao destino: são deslumbrantes.

Acessos do Jalapão


Quem se aventura por lá também precisa gostar muito de água, pois quase todos os lugares aonde nos levaram eram ambientes desse tipo: rios, cachoeiras, praias...

Cachoeira da Velha

Um mito referente ao Jalapão é o de que se trata de um deserto. Nada mais errado e enganoso. O ambiente é de Cerrado e a única área que lembra um pouco um deserto é a região das dunas, que se formam pela erosão provocada pela ação dos ventos nos costões de uma serra próxima.

Dunas do Jalapão

A maior surpresa desta parte da viagem ficou por conta do fervedouro. Você pode ver fotos, ouvir relatos de quem já esteve lá, mas chegar a um fervedouro é uma experiência deslumbrante e também desconcertante. É um espetáculo único para quem tem a oportunidade de entrar num deles. Um fervedouro é um poço de nascente, onde a água jorra das entranhas da terra com uma pressão elevada, e isso faz com que não se afunde nesses ambientes. Nem mesmo os mais cheinhos.

Fervedouro da Korubo

Descemos as corredeiras do Rio Novo de caiaque e flutuando com coletes salva-vidas e nos acabamos em suas praias deliciosas.

Preparando pra descer o rio de caiaque



Praia no rio do Sono

Sacolejamos pela região durante cinco dias em companhia do pessoal da Korubo, Adail e equipe. Ficamos hospedados no Safari Camp, em tendas e camas confortáveis. Tinha até banheiro privativo. Além do que fomos tratados muitíssimo bem durante todo o tempo. Gente muito profissional e competente. Todos foram muito gentis e tal, mas merecem destaque os cozinheiros. Tenho certeza que alguns voltaram pra casa com muitos quilos a mais. Palmas para todos!

De quem são estas pernas?


O CANTÃO

Depois do Jalapão nosso grupo foi levado para o Parque Estadual do Cantão, no extremo Oeste do Estado, onde ficamos hospedados num acampamento às margens do rio do Coco, bem próximo da cidade de Caseara. Desta vez nossos hospedeiros foram Leo e equipe, gente muito boa da CCTrekking. E tome mais comida gostosa e barrigas cheias.

Situado numa região de transição entre os Biomas Cerrado e Amazônia, nas proximidades do rio Araguaia, o Cantão tem encantos em terra e na água. Em tempos de seca, pudemos curtir praias sensacionais ainda sem muitos turistas por perto. As praias do rio Araguaia são o destino para muitos paraenses e tocantinenses no período das férias de julho. Mas demos sorte e chegamos e saímos bem antes do período mais muvucado da região.

Indo para a praia

Foram mais três dias de trilhas, de sobe e desce rio de voadeira, e banhos intermináveis nas águas mornas dos rios do lugar. Muita conversa foi jogada fora e muita diversão rolou ao redor das fogueiras. E muito medo dos causos de ONÇA!!!! Tinha gente com medo até de sair da barraca à noite com medo de virar comida dos grandes felinos.

Tivemos até um atendimento odontológico e antológico de emergência. Doutora Dila precisa apresentar os resultados em algum congresso da categoria.

Dra. Dila em ação

Na volta de Caseara para Palmas rolou uma das mais animadas Discobus da face da terra. Foi o máximo!

Viajar em companhia de outras 19 pessoas, durante nove dias e não rolar um único atrito, além dos pedidos de silêncio à noite, foi uma demonstração de muito boa vontade de todos. Obrigado Sérgio, Catarina, “Senhora” Uldis, “Pitaco” (Patápio, meu companheiro de barracas), Dedé, Ana, Dila, Gera, Cibele, Cris, Sérgio (a galera do Asilo Mineiro), Gisele, Ana Luisa, Dudu, Rodrigo, Ângela, Rosângela, Félix! Foi duca viajar com vocês!

Pôr-do-Sol com Dudu


Até a próxima!

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Equador 2016

Textos e fotos por Cefas Siqueira

Sempre que pensava em ir ao Equador mudava de planos e ia para outro lugar. Isto por causa da dificuldade de chegar lá. Eram sempre 3 ou 4 conexões até o destino.
Agora, com voos saindo de Brasília e com uma única conexão, ficou mais fácil.
Sou orquidófilo e o Equador é um dos países com maior diversidade de orquídeas do planeta. Meu objetivo era conhecer locais com plantas "in situ", mas não deu certo. Só conheci algumas plantas no Jardim Botânico de Quito. Ainda volto lá para fazer umas excursões especiais para ver orquídeas.

Dracula 


Estive em duas cidades: Quito e Guayaquil. 

Quito é charmosa e quente, como quase todas as cidades sul-americanas de origem espanhola. 
Construída num vale entre montanhas, é mais comprida do que larga. Segundo os locais, tem mais ou menos 50 quilômetros de extensão. Dizem que tem gente que mora nos extremos que nunca foi ao extremo oposto.
O Centro histórico de Quito foi um dos primeiros, senão o primeiro, a ser considerado patrimônio cultural da humanidade pela Unesco. As construções, especialmente as igrejas, como em toda América católica, são espetaculares. Dei a sorte de estar na Praça de São Francisco, uma das mais tradicionais da cidade, durante a realização de uma procissão com mascarados no domingo de Páscoa.

Procissão de Páscoa


Mesmo sendo a cidade tão comprida, não é muito fácil se deslocar de um lado para o outro. O meio mais prático é o bom e velho táxi, que lá nem é muito caro.
O destaque é mesmo para a culinária do país. Come-se muito bem e durante a Páscoa quase todos os restaurantes servem um comida feita à base de creme de milho com legumes chamada Fanesca. 
Dos restaurantes locais lembro-me bem dos que mais me agradaram: o do hotel Casa Gangotena, onde a decoração quase compete com a comida, uma adaptação dos pratos nacionais para a cozinha gourmet, e o Nuema, onde o Chefe manda muito bem nas panelas e também faz releituras contemporâneas da culinária local. Se algum dia um dos leitores for a Quito, procurem por estes restaurantes, pois valem a pena.

Ao fundo à esquerda: Hotel Casa Gangotena. À direita: Palácio Presidencial


Das coisas que mais gostei foi ter conhecido a obra do pintor equatoriano Guayasamín. Existe um museu que expõe sua obra e peças de arte pré-colombianas. Um espetáculo! 

Casa-Museu Guayasamín


Quase ia me esquecendo que o que torna o Equador em um país famoso em todo mundo é que ele tem o mesmo nome da linha imaginária de latidude zero do qual herdou o nome. 
É claro que eles tem um local onde construíram um monumento ao Equador e aonde se pode por os pés nos dois hemisférios. Acredita?

Latitude Zero Norte/Sul - Linha do Equador


Guayaquil é uma cidade portuária pouco charmosa à qual não teria ido se soubesse disso. É suja e eu ainda dei o azar de ter reservado um hotel que era uma verdadeira pocilga. Já me aborreci na chegada e isso quase atrapalhou todo o resto. Muitos dos locais aos quais fui estavam fechados, uma chatice. A única coisa que ainda se salvou foram o Malecón e a parte histórica, Las Peñas, que fica no Cerro de Santa Ana. No alto do Cerro tem uma igreja e um farol antigos.

O Malecón de Guayaquil

Cerro Santa Ana


Foi assim que foi. Se quiser ver mais fotos do Equador...

OU