Texto e fotos de Cefas Siqueira
Viajar do Brasil para Angola
é um exercício de perseverança que começa na solicitação do visto de entrada
naquele país.
O processo burocrático, e põe
burocrático nisso, pode levar dias. Eu tive que complementar a documentação
exigida pelo consulado angolano em Brasília com novos documentos e declarações
de que eu não pretendia fixar residência naquele país e também que iria obedecer as
leis locais enquanto lá estivesse. Tudo com firma reconhecida em cartório.
Passagem comprada, o dia da viagem chegando, e nada de visto. Só recebi o
passaporte de volta um dia antes da viagem. É de quase desistir da viagem pelo
tanto que eles são burocráticos. Penso que o governo angolano não tem o menor
interesse em receber turistas no país. Por que será?
O país vive uma crise econômica
profunda provocada pela crise mundial do petróleo, principal produto de
exportação juntamente com o diamante. O desabastecimento atinge todas as áreas,
do comércio à indústria. É comum os angolanos viajarem para a Namíbia, Brasil e
África do Sul para comprar produtos para suas casas. As mercadorias que chegam
aos supermercados logo desaparecem e a reposição pode demorar ou não acontecer.
É comum ver carros com
plástico em lugar dos vidros nas janelas. Os ladrões quebram as janelas dos
carros para furtar o que estiver no interior do veículo e, como não há vidros
para repor os que foram quebrados, eles colam plásticos para poder transitar. Isso
é muito comum em Luanda.
A renda está concentrada numa
pequena parte da sociedade e a miséria é visível por todo lado. Como em quase toda a África, o capital pertence aos brancos e o trabalho é atividade dos negros.
A população pobre da cidade mora
em favelas, como no Brasil, e há um grande número delas por todo lado.
Luanda é uma cidade com
alguns prédios modernos misturados às construções históricas, do período da
ocupação portuguesa. Não chega a ser feia, mas também não é bonita, e não tem
charme.
A baía de Luanda é pequena e
a cidade foi ocupando seus arredores.
Baía de Luanda vista do Forte São Miguel |
Há muito lixo e sujeira por
todo lado. Parece não haver saneamento básico e o lixo se acumula aonde é
jogado. As encostas das falésias estão abarrotadas de lixo.
O abastecimento de energia
elétrica é precário e os prédios e residências costumam ter seus próprios
sistemas de geração, o que provoca poluição do ar e também sonora. As ruas são
muito barulhentas.
O trânsito é caótico, mas as
pessoas só transitam de carro. Quase não se vê gente andando a pé pelas ruas.
Fui desaconselhado várias vezes de sair a pé.
A insegurança é grande e o
serviço de segurança privada parece ser dos negócios mais lucrativos. Há
segurança privada nas casas da população de classe média, nos prédios, nas
ruas, em todo lugar.
A falta de empregos está
clara quando se vê a quantidade de vendedores ambulantes pelas ruas. Mulheres
carregam nas cabeças bacias com todo tipo de mercadorias: peixe, mandioca,
flores, mangas e tudo que se possa imaginar.
Churrasquinho de tudo na rua |
A corrupção e o suborno, que
eles chamam de “gasosa”, é uma prática comum, e é percebida principalmente quando se lida com policiais, desde os que atuam no trânsito até os que trabalham no aeroporto. É
uma praga!
Luanda tem fama de ser uma
das cidades mais caras do mundo, e parece que é verdade. Os alugueis chegam a
preços inimagináveis, mas a comida tem preços razoáveis. Paguei U$ 230 por
noite na "guesthouse" aonde me hospedei. Isso é preço de hotel 4 ou 5 estrelas em
outras cidades do mundo.
Dos
lugares interessantes em que estive em Luanda, a Fortaleza de São Miguel foi um
dos mais bonitos. Construída pelos portugueses bem em frente à baía, há dentro
da fortaleza um ambiente com as paredes cobertas de fantásticos azulejos
portugueses. Esses azulejos retratam cenas da vida e história do povo angolano
como a Rainha Ginga, animais selvagens e frutas nativas. Destaque para as
imagens da Palanca Negra, um cervo que é um dos símbolos
nacionais. É realmente um lugar belíssimo.
Azulejos com cena histórica de Angola |
Para quem gosta de agitos o lugar ideal é a Ilha de Luanda, com seus bares,
restaurantes e casas noturnas.
Gostei
muito também do Mussulo, uma península/ilha, aonde os ricos tem casas de
veraneio; da praia de Santiago, ao norte de Luanda, onde há um bizarro
cemitério de navios de grande porte e de Cabo Ledo, com suas praias ao sul da
cidade.
Na
praia de Santiago os navios foram abandonados na beira da praia, mesmo na
areia, para que a água salgada do mar vá oxidando e corroendo as carcaças,
e é o que se vê lá hoje. Por fim,
destaco a beleza dos baobás que são encontrados aos milhares por todo o litoral de Luanda. O fruto dessas árvores é usado pela
população na alimentação. Há até caipirinha feita com ela.
Cemitério de navios na praia de Santiago |
Indo
a Angola não deixe de apreciar o Jindungo, uma pimenta parecida com a malagueta
que é muito usada na culinária pelos nativos. Mas cuidado! É pra lá de picante.
Foi isso!
Se quiser ver mais imagens de Angola clique aqui
Foi isso!
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