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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Addis Abeba 2018

Texto e Fotos de Cefas Siqueira

Addis Abeba - Etiópia    


Addis Abeba é pouco amigável com os turistas. Não existem postos de informação e os habitantes raramente falam inglês. A comunicação só fica razoável nos hotéis e em alguns raros restaurantes e cafés. Isso dificulta demais a estada na cidade. 
Inacreditavelmente, há hotéis das maiores cadeias internacionais como Sheraton e Hilton. Devem se manter com os visitantes de negócios e dos organismos internacionais aqui instalados, como a União das Nações Africanas.
São poucos e precários os locais de interesse turístico. Os deslocamentos são limitados aos táxis, caindo aos pedaços, com preços negociados antes do embarque. 
Há esgotos correndo a céu aberto por todo lado e as estradas podem, de repente, virar de terra.
Como sou caminhador resolvi fazer um tour por minha conta, a pé, mesmo contra todos os conselhos em contrário. Pretendia caminhar seis quilômetros até a principal igreja cristã daqui, a Holy Trinity Cathedral, e acabei caminhando catorze quilômetros. Isso porque um pedaço do caminho passava ao lado do palácio do primeiro ministro. Acontece que eu estava com a máquina fotográfica a tiracolo e isso é proibido ao lado do palácio. A toda hora era obrigado pelos militares a fazer um caminho mais longo para não passar com a câmera perto do tal palácio. Fotografia então, nem pensar. Nem tentei fotografar, para não ficar preso por lá. Aborrecido.
Ainda tentei frequentar alguns restaurantes da cidade, mas não fui bem sucedido. O mais bem ranqueado deles nos aplicativos para turistas é muito ruim. Pensei até que tinha errado de lugar. Deviam ser proibidas as fotografias feitas pelos proprietários nesse tipo de site. Pura enganação.
Lucy enfeitada - Restaurante Lucy

E no último dia na cidade a internet desapareceu. Segundo o pessoal do hotel esta é uma manobra do governo para impedir as comunicações para fora do país. Inacreditável.
Bem, se alguém quiser conhecer a África não recomendo que comece pela Etiópia. Comece pela Namíbia ou pela África do Sul para ter melhores experiências. Deixe a Etiópia para uma oportunidade como a que vivi agora: viajei para a Ásia pela Ethiopian Airlines e me ofereceram uma parada aqui. Como eu tinha uma memória romântica ligada à Abissínia do passado, um lugar de respeito na história da humanidade, resolvi aceitar. 
Isso sem contar o fato conhecido de que o mais antigo vestígio de hominídeo foi encontrado aqui, o crânio de Lucy, nossa mais anciã ancestral. Mas não foi fácil. 
Isso sem contar a história recente do país com o ditador Hailé Selassié e família e tudo o que veio depois. 
As pessoas até que tentam ajudar e querem conversar o tempo todo, pois se sentem sufocadas pelo regime autoritário em vigor. Querem e esperam mudanças para a situação em que vivem.
Há muita pobreza por todo lado e o desemprego é alarmante. As pessoas tentam apenas sobreviver. 
Estive na Universidade da Etiópia, pois ela funciona no prédio aonde era o palácio do ditador. A situação é de dar pena.
Temos muitas etiópias no Brasil e no mundo e não posso fingir que não sei da existência delas. Tudo indica que elas aumentarão nos próximos tempos. 
Temos que encontrar uma saída pra eliminar da face da terra a corrupção e seus filhotes, bem como as sociedades intolerantes com os diferentes, que sãos os responsáveis pela maioria dos problemas dos povos da terra. Tristes as sociedades que mantém tamanha distância entre os ricos e os miseráveis. Um dia sucumbirão à própria cegueira.
Não gostaria de ter visto o país com esse olhos, mas é impossível não ficar estarrecido e preocupado com o futuro da humanidade.
Ou encontramos uma maneira de reduzir as desigualdades entre os povos ou estaremos fadados ao fracasso. Isso vale em relação aos povos africanos. Ou contribuímos para a melhora da situação deles ou sucumbiremos na mesma tragédia.

Luang Prabang - Laos - 2018

Texto e fotos Cefas Siqueira

Luang Prabang - Laos

O que mais me impressionou no Laos foi a variedade de comidas encontradas nas feiras públicas da cidade.
É uma coisa de louco. 
Penso que eles levam fácil o título mundial de esquisitices alimentares. Dentre as coisas mais bizarras que encontrei estavam sapos, rãs, passarinhos, larvas (cruas, cozidas e assadas), gafanhotos, enguias, peixes pré cambrianos (daqueles capazes de se deslocar pela terra como se fossem lagartos), pequenos caranguejos, cobras e tudo que é de entranhas de animais cozidas. É claro que eles também comem muito peixe, o prato nacional é uma salada de peixe muito da sem graça. 
Comidas estranhas

Luan Prabang foi a primeira capital do Laos ao lado do rio Mekong. Possui uma arquitetura romântica e antiquada para os padrões atuais. Não há prédios modernos e nem com mais de três pavimentos. Um leve sotaque francês, herança do período de colonização. Um charme só. 
Além disso tem um templo para cada dia do ano, cada um mais bonito que o outro. Por isso é considerada patrimônio cultural da humanidade pela Unesco. 
Rio Mekong

Mas é uma cidade pequena e sem muitos atrativos. Além da arquitetura eles oferecem passeios para um centro de preservação do elefante do Laos, duas cachoeiras, uma caverna com um punhado de budas e um dia inteiro numa fazenda, vivendo a realidade local. 
A cidade é cosmopolita e atrai gente do mundo inteiro. Acho que marketing é o que eles sabem fazer de melhor.
Não achei muita graça, mas aproveitei para descansar e treinar o francês.

Myanmar 2018

Texto e fotos de Cefas Siqueira


Yangon

Yangon, ou Rangoon, é a maior cidade do Myanmar, e parece uma cidade média brasileira. Grande parte dos edifícios são contemporâneos, mas ainda estão preservados muitos edifícios tradicionais. O ponto principal de interesse é o templo Shwedagon. Um impressionante pagode com uma stupa espetacular no centro dos templos. Tudo folheado a ouro, uma coisa esplêndida.

Templo Shwedagon

Aqui também tem muita água por todo lado, e a cultura é muito ligada a este fato. A comida, as construções, a vida comum cotidiana. A cidade é banhada por um rio imenso chamado Yangon, por onde navegam navios de grande calado. Existem também navios táxi, como em Bangkok, na Tailândia. 
Existem grandes shopping centers, bem ao estilo ocidental, mas tudo muito sem graça. O bom mesmo é se perder pelos labirintos dos mercados comuns, dos mercados tradicionais, e apreciar o tipo de vida que a população leva. 
Em Yangon, passei minha única dificuldade da viagem. A máquina do ATM do hotel engoliu o meu cartão de crédito na noite anterior à minha partida. Foi uma confusão, mas o fato de eu ter falado grosso com o pessoal do hotel fez com que eles conseguissem que o banco enviasse um técnico até o hotel no outro dia bem cedinho, antes de ou sair para o aeroporto, retirasse o meu cartão de dentro da máquina e me devolvesse. O funcionários do hotel foram craques no socorro a mim.
Vestido à birmanesa
Bagan
Quando cheguei em Bagan, tive a impressão de estar chegando em São Jorge, na Chapada dos Veadeiros, no Planalto Central brasileiro. A primeira coisa com a qual me deparei foi com um carro de boi no meio da rua, carregando capim. 
Carro de bois em Bagan

Existem duas Bagans:  uma New Bagan e outra Old Bagan. A cidade e os templos dos arredores são considerados patrimônios culturais da Humanidade pela Unesco, em razão das centenas de templos que foram construídos em várias épocas de vários reinados. Os templos hoje estão abandonados no meio do mato, mas alguns estão sendo recuperados.
Estupa em restauração
Penso que os birmaneses da região tinham muito tijolo sem uso, e então resolveram sair construindo templos e estupas. Minha ideia original era fazer um passeio de balão pra poder ver de cima os templos no meio da vegetação, mas os balões estavam parados por causa do período das monções. 
Maior templo de Bagan

Em compensação, vivi uma das experiências mais malucas da minha vida. No primeiro dia na cidade resolvi alugar um uma bicicleta comum pra poder ir ver os templos. Mas me arrependi, porque os templos são muito distantes uns dos outros e a pedalada ficou muito cansativa. Principalmente no calor derretente de lá. 
Parênteses (O calor que faz em Bagan beira o insuportável.  Olha que eu já trabalhei em Imperatriz no Maranhão, em Marabá no Pará, em Cuiabá no Mato Grosso, mas nada, nada se compara ao calor que faz em Bagan. As cidades brasileiras parecem ser as sucursais do inferno. Bagan parece ser o próprio inferno.) Fecha parêntesis. 
No meu passeio na bicicleta já percebi alguns locais arenosos, com grande risco para Cefas, que não tem a menor intimidade com duas rodas.
No segundo dia, resolvi alugar uma bicicleta elétrica. Isso quer dizer uma motinha.
Cheguei no cara que alugava cheio de coragem, e disse que queria alugar uma bicicleta elétrica. Ele me perguntou se eu sabia andar naquele troço, e eu disse que não, mas que podia testar primeiro antes de ir pro mato naquela porra. Dei uma meia volta por ali cheio de desconfiança na cabeça e pá! resolvi alugar. Motinha alugada, lá vou eu em direção aos templos. Tudo bem, tudo tranquilo, primeiro tempo legal, pista de terra batida de cascalho e o medo louco de cair daquela monstra e dar de cara no chão.
Comecei a chamá-la de cabrita, ou besta, dada a sua condição de animal absolutamente voluntarioso.
A bichinha era muito mal educada. Existe um problema de incompatibilidade de gênios entre mim e os seres de duas rodas. Toda vez que eu pensava que ia parar a filha da égua, ela fazia era acelerar mais, e aquilo me deixava maluco. Quanta descoordenação! 
Parece coisa de doido, parece que a gente não sabe lidar com os trem. Eu tentando  dominar a situação e ela me lavando pra onde queria. 
Me sentia o tempo todo prestes a ser enfiado mato adentro. Era uma luta, mas ainda não estava muito complicado. 
De repente cheguei num lugar que era pura areia. Aí  desandou tudo. 
O que já era um relacionamento difícil, ficou insuportável. Era eu querendo ir para um lado e ela querendo ir para outro. Ô bicha encapetada! Só lembrava do Geraldinho e a bicicleta. Era a mesma coisa.
Ô trem cheio de vontade própria. Mas perrengando daqui, perrengando dali, consegui passar o dia sem levar nenhum tombo, apesar das vezes que  eu quase, quase, quase fui parar no chão, eu consegui ficar em pé. Venci a besta. Experiência traumática. Mas atendeu aos objetivos. Cheguei no hotel pra devolver a cabrita e tinha os pés cheios de areia, sujos de todas as vezes que eu tive que enfiar o pé na terra pra poder segurar a safada. Depois disso, podem me chamar pra trepar em qualquer touro, qualquer cavalo xucro, que eu estou dentro.
Bagan vale a pena.
Eu na cabrita

Inle Lake

Inle Lake é o segundo maior lago do Myanmar. Chega-se de avião numa cidade chamada Heho, e depois tem que pegar um carro e andar mais uma hora e meia até chegar ao hotel. Dependendo da localização do hotel é preciso pegar barco para chegar.
É um lugar romântico demais pra ir sozinho, mas eu não sabia, e tava lá.
Fiquei num hotel em cima do Lago, um resort espetacular. Mas tudo muito, muito caro. Tudo em dólar americano. É claro que o brasileiro cheio de jeito pra tudo descobriu rapidinho o melhor lugar pra compra cerveja a mais barata, a melhor comida local, e aí eu fui curtindo os dias que passei lá.
Tudo em Inle Lake é sobre a água. O mercado é flutuante, as casas, os templos, as stupas, tudo é dentro do lago. É muito bonito.
Inle Lake

Aluguei um barco no hotel e passei o dia inteiro andando pelo lago. Daí pude perceber um pouco da vida local, de como funcionam as coisas. 
É claro que os guias querem sempre te levar pra algum lugar onde você possa comprar alguma coisa, e isso é muito chato. Acabei conseguindo neutralizar um pouco esse comportamento, dizendo que não queria comprar absolutamente nada. 
Tive oportunidade de ver o mercado aonde as mulheres do pescoço comprido do Myanmar vendem seus produtos. Elas são excelentes tecelãs e tem uma lojinha no Inle Lake. As mulheres são de uma simpatia enorme. E são belas também.
Mulher do pescoço comprido

Até nadei no Inle Lake. Pedi ao barqueiro que parasse no meio do lago e pulei na água. Foi massa!

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Bangladesh 2018

Texto e Fotos de Cefas Siqueira

Bangladesh

Minha ida ao Bangladesh acabou se tornando uma decisão das mais importantes e surpreendentes da minha viagem pela Ásia no ano de 2018.
Bangladesh é um dos países mais populosos e mais densamente povoados do mundo. Imaginem uma população parecida com a brasileira, cerca de 200 milhões de habitantes, num espaço do tamanho do estado do Ceará, mais ou menos.
Esse gigantismo populacional, provoca alguns transtornos para a população em geral. O mais perceptível deles é no trânsito. É impossível se deslocar de um lugar para outro com rapidez. É lento em qualquer direção e em qualquer horário. 
Numa viagem de carro para o interior do país nossa velocidade alcançou a marca de inacreditáveis dez quilômetros por hora.
Outros problemas que acredito que enfrentam, e eu não pude averiguar isso em tão pouco tempo, é no que se refere à alimentação, ao saneamento, ao atendimento à saúde e educação de tanta gente.
No mais, foi só surpresa boa pra mim. A começar por Daca, a capital. A primeira surpresa foi com a modernidade da arquitetura, muito parecida com a modernidade das cidades ocidentais. Ainda levam vantagem por não possuírem arranha-céus. Os prédios são de altura mediana, o que não impede a ventilação da cidade inteira. 
Um detalhe que chamou a minha atenção desde o sobrevoo é que há muitos prédios, muito mais que casas,  por que, pra colocar tanta gente num mesmo lugar é preciso que a cidade seja mais vertical que horizontal, senão, não caberia todo mundo e o território seria ocupado só com residências. Parece exagero, mas creio nisso.
Outra coisa que me chamou a atenção foi o traçado da cidade e a orientação dos arruamentos, que é muito bem feito, apesar de que o excesso de carros faz com que isso nem apareça muito.
Como de resto em todo o sudeste asiático Daca, e Bangladesh no geral, dispõe de muita água superficial. São muitos lagos, lagoas e rios que fazem com o que a vida do povo seja muito ligada a este elemento. Tanto pra alimentação quanto pra transporte e produção agropecuária.
Os bengalis são grandes produtores de confecções de vestuário, pra tudo quanto é tipo de grife internacional. Dessas que a gente compra no Brasil ou em qualquer lugar do acidente tipo Nike, Adidas ou as grandes e famosos grifes francesas. Isso gera muito emprego e capacidade de sustento para a população local, e muito lucro para os importadores, claro.
Minha vida social em Daca, ao lado de Sandra e João, meus amigos residentes, foi intensa. Tanto que tive que ir para o mercado comprar uma calça mais arrumadinha, uma camisa mais bonitinha, um sapatinho mais ajeitado pra poder frequentar o salões mais chiques da cidade.. Obrigado Sandra! Obrigado João!
Sandra, João, Eu e bengalis

O João já havia comentado comigo da paixão do povo bengali, ou bangla, como são chamados os nativos de Bangladesh, pelo futebol brasileiro. A princípio achei que ele estava exagerando. Mas não. Tivemos a oportunidade de passar um fim de semana num vilarejo próximo a Daca. Pra começar, no trajeto entre Daca e o vilarejo existiam uma grande quantidade de bandeiras brasileiras nos mastros sobre as casas e prédios. Infelizmente, também aqui existe a rixa entre as torcidas do Brasil e da Argentina.  Assim como tem muito bangla que torce pelo Brasil, também tem um bocado que torce pela Argentina. Eu acho que é só pra ser do contra.
No vilarejo pudemos pescar e passear pelo lugar, e é tudo muito parecido com qualquer interior brasileiro. No nosso primeiro passeio caminhando, depois de uma meia hora mais ou menos, tínhamos quase todo vilarejo andando conosco, numa curiosidade tremenda. Principalmente as crianças. Igualzinho no Brasil. Algumas vezes eu me senti um alien. Toda hora tinha que parar pra tirar uma foto com alguém, pra abraçar alguém, pra alguém mostrar a camisa do Brasil. E as crianças quando nos viam, se já não estavam vestidas com uma camisa da seleção brasileira, corriam em casa pra trocar de roupa pra mostrar pra gente. Foi emocionante.
Brasil até o fim

Sandra, Eu e Shaheen

Estivemos neste vilarejo a convite de Sayeeful que nos cedeu sua casa. Obrigado Sayeeful!
Também Fomos convidados duas vezes pra jantar com a senhora Shaheen, nos restaurantes de sua propriedade. Todas as duas vezes foram espetaculares. Obrigado Shaheen!
Também preciso agradecer ao Zilu, à Sadia(?) e ao Moacir, que facilitaram minha vida em Daca.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Calcutá - Índia - 2018

Texto e fotos de Cefas Siqueira

Oh, Calcutá!

Quando cheguei em Calcutá já era noite. O carro me esperava no aeroporto, como combinado, e partimos em direção ao hotel. Mesmo já estando acostumado com a Índia, fui ficando preocupado com o caminho que fazíamos pelas ruelas da cidade. Cheguei a pensar que entraria em outra roubada de viagem e que o hotel deveria ser um tremendo pulgueiro. 
Em meio àquela confusão infernal de prédios mal cuidados, gente na rua e uma infinidade de carros e riquichás, finalmente chegamos ao hotel. Uma agradável surpresa para aliviar o quase pânico. O hotel era muito bom. 
Calcutá é uma cidade enorme, com uma tradição cultural milenar e ilustres personagens.
RamaKrishna foi um de seus moradores mais iluminados e nesta cidade se tornou o mestre. Hoje tem seguidores de sua filosofia por todo o mundo. A sede da comunidade internacional Hare Krishna fica na cidade e o templo aonde ele pregava também. 
Talvez possa afirmar que ele foi um renovador e influenciador da tradição hindu. RamaKrishna nasceu um homem comum, tendo até se casado, antes de receber o chamado divino. Quando se casou sua esposa era apenas uma criança e ela esperou até alcançar a maioridade para se juntar ao marido. Contam os iniciados que neste momento RamaKrishna disse a ela que não poderia mais exercer o papel de marido, pois havia se convertido à religião e que ela estava livre para retomar sua vida. Ela se recusou a voltar para a casa dos pais e disse que o seguiria de qualquer jeito, cuidando dele e da casa, mesmo que não vivessem como marido e mulher. Por sua devoção a RamaKrishna ela também é cultuada como exemplo de dedicação.
Outro ilustre personagem da cidade foi Madre Teresa. Estive na sede das Irmãs de Caridade, congregação criada por ela e aonde estão seus restos mortais. É de uma simplicidade desconcertante e demonstra bem o total despojamento desta pessoa especial. Difícil imaginar como ela, sendo cristã, conseguiu reconhecimento numa sociedade de maioria absoluta hindu.
Quarto de Madre Teresa de Calcutá


A antiga região bengali, como de resto toda a Índia, esteve sob o domínio inglês por um longo período, e as marcas dessa presença estão por toda parte. 
Os prédios da região inglesa da cidade tem arquitetura ocidental e alguns ainda estão em pleno uso pela população. O mais impressionante prédio deste período é o Victoria Memorial Hall, construído em homenagem à rainha da Inglaterra, que nunca esteve em Calcutá.
Há uma infinidade de palácios e palacetes do período inglês, a maioria em plena decadência, mas ainda sob a posse dos milionários herdeiros dos marajás e da elite indiana. 
Estive em um desses suntuosos palácios, onde não se permitia fotografar sob nenhuma condição, porque a família endinheirada ainda usava seus aposentos. Tudo, do mobiliário aos objetos de arte, com aspecto de abandono e franca destruição. Uma das paredes ostentava um enorme, e original, segundo o guia, quadro de Rafael, certificado pela Fundação Rafael. Perguntei porque não mantinham as peças e o próprio prédio em bom estado e a resposta foi de que a maioria dos ricos não querem chamar a atenção do fisco, por isso a aparência geral de abandono.
Todos os palácios em que estive reproduziam o mesmo padrão: tudo meio fantasma. Descobri que existe até um livro cujo título é algo parecido com Os Palácios Esquecidos de Calcutá.
Estive também num dos mais lindos templos que já vi até hoje. Curiosamente, os templos mais ricos em decoração são sempre da religião Siki. Assim como o Templo Dourado de Amritsar, este também é bem cuidado e está em constante manutenção. Foi construído por um ricaço do negócio de joalheria e é todo feito em mosaicos de vidro. Zilhões de pedaços de vidro de todas as cores, assentados com absoluto rigor, formam um complexo harmônico, da arquitetura à decoração. Uma jóia mesmo.
O Templo de mosaico de vidros

O mercado de flores, ao lado do rio Ganges, que eles juram que aqui é limpo, mesmo estando vindo de Varanasi, aonde ele é conhecido como o rio mais sujo do mundo, é também uma atração interessante. A oferenda básica da religião hindu requer flores de variadas cores e formatos. Para cada Deus uma cor e uma flor diferentes. Com uma população beirando os dois bilhões de habitantes praticantes da religião, o mercado de flores é um excelente negócio para a economia do pais.
O mercado de flores

Outra atração da cidade é o New Market, no bairro muçulmano. É a feira do Paraguai elevada à enésima potência.
E fui bem até aqui.

Rishikesh - Índia - 2018


Texto e fotos de Cefas Siqueira

Resistindo à viagem

Cheguei em Addis Ababa na Etiópia depois de 11h00 de voo desde São Paulo. A primeira impressão foi a de que o aeroporto é igual a todos os outros. Não é muito moderno mas também não é dos piores. Mas, é só ir ao restaurante do lugar para descobrir que as coisas são bem caras. Uma cerveja long neck  custa absurdos seis dólares, mas paguei por isso. Pedi um jantar e rezei para não ter nenhum problema durante o voo até minha primeira parada na Índia.  

Em seguida continuei a viagem em direção a Deli, Dheradum e Rishikesh, meu destino final nessa primeira parte da viagem.

Rishikesh - Índia

Peguei uma diarreia cruel no voo de Addis Ababa para Delhi. Viu Catarina? Só pude fazer alguma coisa a respeito quando cheguei em Rishikesh. As pessoas todas tentando me ajudar a estancar a caganeira, mas  foi um senhor, dono de um café muito legal, chamado Soul café, quem me ajudou. Normalmente não faço isso, mas ele me indicou um remédio, meu guia foi até a farmácia, comprou o tal remédio, tomei e deu um resultado espetacular. Parou no mesmo dia. Vou guardar o nome pra sempre. Valeu Velhinho!
Olhem só o avião que encarei de Delhi para Rishikesh. 

Quando cheguei a Rishikesh, Índia, primeiro destino, dormi mais de 10 dias pra compensar a viagem.
Rishikesh é uma cidade vegana, e aqui nem ovo tem pra compra, imagina cerveja, meu vício. Fiquei chateado.
Mas, em todo lugar aonde tudo é proibido, o proibido está disponível no mercado negro ou aonde só os locais sabem. E eles acabam nos levando à fonte.
Eles tem “liquor stores” em caminhões que ficam estrategicamente parados nas estradas fora da cidade. Mas tem também um hotel/restaurante fora dos limites da cidade que tem carne vermelha e peixe e frutos do mar do jeito que o cliente quiser. Jantei lá todos os dias.
Vista do rio Ganges do quarto do hotel

Estive no que restou do antigo Ashram de Maharishi Mahesh, aonde Beatles vieram para aprender meditação transcendental.
O lugar é belíssimo, e hoje faz parte de um parque nacional. Está tudo em ruínas. Parece que o governo local tem a intenção de reformar, de revitalizar esse ambiente pra que ele se torne um centro cultural ou um centro de aprendizado de ioga e meditação.
Depois daqui os Beatles voltaram para a Inglaterra, produziram o Album Branco e se separaram pra sempre. 
Eu e os Beatles 

Nunca vou meditar aqui. No Ashram as celas eram muito pequenas, parecidas com as solitárias das prisões. A pessoa entrava e se colocava em posição de meditação, na posição de lótus. 
Há também cavernas meditação em Rishikesh. 
Na mais famosa delas, um líder espiritual indiano passou mais de 40 inacreditáveis anos meditando. Pensa só isso, 40 anos depois a pessoa já não tem mais memória, já não tem mais história e já não tem mais futuro. A pessoa não será mais capaz de lidar com a realidade que encontrar quando sair. O que essa pessoa produziu pra humanidade? A comida e a bebida, quem cuidou de tudo isso? Este líder espiritual é idolatrado pelos indianos. Difícil de entender.
E há pessoas do mundo inteiro que vem aqui só pra meditar nessa caverna. Penso que a meditação é uma coisa que acontece naturalmente em qualquer lugar aonde a pessoa estiver, no habitat da pessoa. Não acredito que o lugar aonde o outro medita seja o lugar ideal para a sua meditação. Não creio que haja um lugar especial pra fazer meditação, mas sim condições ideais. Talvez o fato de estar numa caverna onde um líder religioso famoso tenho estado contribua para a liberação da capacidade de meditar, mas acho isso muito difícil.
Os moradores locais me veem como um alien, estão o tempo todo me assediando e pedindo para tirar fotos.
Me sinto completamente adaptado e desavergonhado na Índia. Arroto e peido em qualquer lugar.
Também aprendi a chupar e palitar os dentes. Evoluindo.
Estive em duas cerimônias do fogo. São muito bonitas, mas são menos grandiosas do que as cerimônias do fogo de Varanasi.
Caminhar pelas ruas é uma maravilha para o sentidos, principalmente para a visão e o olfato. São pessoas demais, riquichás demais, tuque-tuques demais e carros demais. Tudo em excesso, como é no geral em toda a Índia. As ruas são muito esburacadas e a poeira é muito grande, provocando uma baita poluição.
O rio Ganges é realmente limpo nesta região, mas não pude tomar banho nele porque estava um tempo meio feio e a correnteza é muito grande. É muito perigoso entrar na água e existem até correntes amarradas ao longo do rio para que as pessoas possam segurar. O risco de ser levado pelas águas é grande e eu não queria correr o risco de ser levado e ficar boiando rio abaixo.
Experimentei de novo o prazer de ir cortar o cabelo e a barba e receber uma massagem facial e na cabeça. Só quem já esteve na Índia sabe o tanto que é gostosa essa massagem.
Fiz uma caminhada muito legal pelas montanhas próximas do Hymalaia, bem no início da cordilheira, e me deparei com uma paisagem espetacular. Havia no caminho um jardim natural de orquídeas, de vandas. Meus amigos orquidófilos vão ficar morrendo de inveja, mas eu não coletei nenhum pedacinho pra levar de volta pra casa.
Fiz um grande amigo nessa parte da viagem. Meu guia, Dinesh, é um grande cara, uma pessoa muito, muito legal. A gente ainda vai se rever nesta vida, talvez no Brasil ou de volta aqui na Índia. Obrigado, Dinesh!

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sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Toronto 2017

Toronto I
Texto e fotos de Cefas Siqueira

Primeiro dia de Toronto. A cidade é mais horizontal do que vertical, quer dizer, os prédios não são muito altos e na maioria tem 5 ou seis andares. Parece uma cidade que ainda está em construção. É tudo muito novo, e o povo, não dá pra reconhecer quem é canadense ou quem é imigrante. Parece tudo imigrante. Tem gente de todo lado. Da Coréia, do Brasil, tem muito, muito brasileiro falando português pelas ruas. 
A impressão que eu tinha no Brasil de que aqui as coisas eram muito caras se confirmou. Toronto é uma cidade realmente muito cara. A comida é cara, a bebida é cara, o hotel é caro. Até o bilhete do metrô é caro. São cerca de R$ 9 pra você fazer uma viagem só de ida.
A cidade é plana, não tem montanhas. Então a gente consegue ver o horizonte de quase todo lugar da cidade. É um pouco como Brasília. 
Eu não entendi o que movimenta essa cidade. Não se vê muito comércio pelas ruas, e aparentemente eles vivem de vender serviço.
Mas a cidade é rica, e fiquei num hotel no centro mais luxuoso dela. Há no térreo de onde fiquei uma lojinha da Masserati/Ferrari. Coisa boba.
O calorão que disseram que eu encontraria em Toronto foi por água abaixo. Choveu pra caramba. Ia pra rua e tome aguaceiro. 

Toronto II

A cidade é toda muito limpa. Parece que o que move a economia de Toronto e talvez do Canadá todo, é o mercado financeiro. Se considerarmos que o centro financeiro de Toronto é onde estão os maiores arranha-céus da cidade e os aglomerados financeiros todos que tem sede aqui. 
Uma curiosidade da cidade, que chama a atenção dos turistas, é a quantidade de galerias subterrâneas. São muitas e tem comércio variado, de farmácia a restaurante, se encontra de tudo. Para um lugar de clima tão severo, com frio tão intenso, as galerias são uma garantia de que a pessoas não sofrerão tanto andando nas ruas nos dias de neve e vento frio.
O Harbourfront, a região que fica na costa do lago Ontário, é onde se concentram os arranha-céus e os principais pontos de interesse pro turismo, como a CN Tower, o Distillery District e o Aquário Ripley, orgulhos nacionais.
Apesar da proximidade, são apenas 65 km de distância de Toronto até Niagara Falls, não tive vontade de ir, e não fui. Como também não tive vontade de ir, e não fui, a nenhum museu. Não aguento mais museus. Acho que já conheço tudo que eu precisava conhecer de museu no mundo. Prefiro ir aos locais aonde as coisas estejam acontecendo ou aconteceram. Só abro exceção para obras de arte.
Teatro ainda curto bastante. Fui a um espetáculo chamado Beautifull, sobre a vida e a obra de Carole King e outros contemporâneos dela. Foi muito legal.
Fui também ao Chinatown de Toronto, mas em que lugar não  tem um Chinatown? É dos mais organizados que já vi. 
Ia me esquecendo, aqui os restaurantes de self service, de comida a quilo, ficam nos supermercados. Eu nunca imaginei que ia comprar comida num mercado um dia pra comer, pois aqui eu comprei e comi. Eca!
Não fui a nenhum restaurante bom, daqueles que a gente fica com saudade. Tudo comida marrom. A comida é muito cara, como de resto tudo é caro. Fiquei espantado com os preços de tudo.
Vi muito velhinho andando de andador pelas ruas, e alguns hotéis para aposentados. São de primeira qualidade. 
Como Toronto não tem muita coisa pra ver, eu também não tenho muito sobre o que escrever. Foi assim que foi.
Uma cidade grande que eu não tinha a menor intenção de conhecer, mas tive a oportunidade de parar aqui e ficar por três dias a caminho do Japão. Valeu a pena.