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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Addis Abeba 2018

Texto e Fotos de Cefas Siqueira

Addis Abeba - Etiópia    


Addis Abeba é pouco amigável com os turistas. Não existem postos de informação e os habitantes raramente falam inglês. A comunicação só fica razoável nos hotéis e em alguns raros restaurantes e cafés. Isso dificulta demais a estada na cidade. 
Inacreditavelmente, há hotéis das maiores cadeias internacionais como Sheraton e Hilton. Devem se manter com os visitantes de negócios e dos organismos internacionais aqui instalados, como a União das Nações Africanas.
São poucos e precários os locais de interesse turístico. Os deslocamentos são limitados aos táxis, caindo aos pedaços, com preços negociados antes do embarque. 
Há esgotos correndo a céu aberto por todo lado e as estradas podem, de repente, virar de terra.
Como sou caminhador resolvi fazer um tour por minha conta, a pé, mesmo contra todos os conselhos em contrário. Pretendia caminhar seis quilômetros até a principal igreja cristã daqui, a Holy Trinity Cathedral, e acabei caminhando catorze quilômetros. Isso porque um pedaço do caminho passava ao lado do palácio do primeiro ministro. Acontece que eu estava com a máquina fotográfica a tiracolo e isso é proibido ao lado do palácio. A toda hora era obrigado pelos militares a fazer um caminho mais longo para não passar com a câmera perto do tal palácio. Fotografia então, nem pensar. Nem tentei fotografar, para não ficar preso por lá. Aborrecido.
Ainda tentei frequentar alguns restaurantes da cidade, mas não fui bem sucedido. O mais bem ranqueado deles nos aplicativos para turistas é muito ruim. Pensei até que tinha errado de lugar. Deviam ser proibidas as fotografias feitas pelos proprietários nesse tipo de site. Pura enganação.
Lucy enfeitada - Restaurante Lucy

E no último dia na cidade a internet desapareceu. Segundo o pessoal do hotel esta é uma manobra do governo para impedir as comunicações para fora do país. Inacreditável.
Bem, se alguém quiser conhecer a África não recomendo que comece pela Etiópia. Comece pela Namíbia ou pela África do Sul para ter melhores experiências. Deixe a Etiópia para uma oportunidade como a que vivi agora: viajei para a Ásia pela Ethiopian Airlines e me ofereceram uma parada aqui. Como eu tinha uma memória romântica ligada à Abissínia do passado, um lugar de respeito na história da humanidade, resolvi aceitar. 
Isso sem contar o fato conhecido de que o mais antigo vestígio de hominídeo foi encontrado aqui, o crânio de Lucy, nossa mais anciã ancestral. Mas não foi fácil. 
Isso sem contar a história recente do país com o ditador Hailé Selassié e família e tudo o que veio depois. 
As pessoas até que tentam ajudar e querem conversar o tempo todo, pois se sentem sufocadas pelo regime autoritário em vigor. Querem e esperam mudanças para a situação em que vivem.
Há muita pobreza por todo lado e o desemprego é alarmante. As pessoas tentam apenas sobreviver. 
Estive na Universidade da Etiópia, pois ela funciona no prédio aonde era o palácio do ditador. A situação é de dar pena.
Temos muitas etiópias no Brasil e no mundo e não posso fingir que não sei da existência delas. Tudo indica que elas aumentarão nos próximos tempos. 
Temos que encontrar uma saída pra eliminar da face da terra a corrupção e seus filhotes, bem como as sociedades intolerantes com os diferentes, que sãos os responsáveis pela maioria dos problemas dos povos da terra. Tristes as sociedades que mantém tamanha distância entre os ricos e os miseráveis. Um dia sucumbirão à própria cegueira.
Não gostaria de ter visto o país com esse olhos, mas é impossível não ficar estarrecido e preocupado com o futuro da humanidade.
Ou encontramos uma maneira de reduzir as desigualdades entre os povos ou estaremos fadados ao fracasso. Isso vale em relação aos povos africanos. Ou contribuímos para a melhora da situação deles ou sucumbiremos na mesma tragédia.

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