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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Calcutá - Índia - 2018

Texto e fotos de Cefas Siqueira

Oh, Calcutá!

Quando cheguei em Calcutá já era noite. O carro me esperava no aeroporto, como combinado, e partimos em direção ao hotel. Mesmo já estando acostumado com a Índia, fui ficando preocupado com o caminho que fazíamos pelas ruelas da cidade. Cheguei a pensar que entraria em outra roubada de viagem e que o hotel deveria ser um tremendo pulgueiro. 
Em meio àquela confusão infernal de prédios mal cuidados, gente na rua e uma infinidade de carros e riquichás, finalmente chegamos ao hotel. Uma agradável surpresa para aliviar o quase pânico. O hotel era muito bom. 
Calcutá é uma cidade enorme, com uma tradição cultural milenar e ilustres personagens.
RamaKrishna foi um de seus moradores mais iluminados e nesta cidade se tornou o mestre. Hoje tem seguidores de sua filosofia por todo o mundo. A sede da comunidade internacional Hare Krishna fica na cidade e o templo aonde ele pregava também. 
Talvez possa afirmar que ele foi um renovador e influenciador da tradição hindu. RamaKrishna nasceu um homem comum, tendo até se casado, antes de receber o chamado divino. Quando se casou sua esposa era apenas uma criança e ela esperou até alcançar a maioridade para se juntar ao marido. Contam os iniciados que neste momento RamaKrishna disse a ela que não poderia mais exercer o papel de marido, pois havia se convertido à religião e que ela estava livre para retomar sua vida. Ela se recusou a voltar para a casa dos pais e disse que o seguiria de qualquer jeito, cuidando dele e da casa, mesmo que não vivessem como marido e mulher. Por sua devoção a RamaKrishna ela também é cultuada como exemplo de dedicação.
Outro ilustre personagem da cidade foi Madre Teresa. Estive na sede das Irmãs de Caridade, congregação criada por ela e aonde estão seus restos mortais. É de uma simplicidade desconcertante e demonstra bem o total despojamento desta pessoa especial. Difícil imaginar como ela, sendo cristã, conseguiu reconhecimento numa sociedade de maioria absoluta hindu.
Quarto de Madre Teresa de Calcutá


A antiga região bengali, como de resto toda a Índia, esteve sob o domínio inglês por um longo período, e as marcas dessa presença estão por toda parte. 
Os prédios da região inglesa da cidade tem arquitetura ocidental e alguns ainda estão em pleno uso pela população. O mais impressionante prédio deste período é o Victoria Memorial Hall, construído em homenagem à rainha da Inglaterra, que nunca esteve em Calcutá.
Há uma infinidade de palácios e palacetes do período inglês, a maioria em plena decadência, mas ainda sob a posse dos milionários herdeiros dos marajás e da elite indiana. 
Estive em um desses suntuosos palácios, onde não se permitia fotografar sob nenhuma condição, porque a família endinheirada ainda usava seus aposentos. Tudo, do mobiliário aos objetos de arte, com aspecto de abandono e franca destruição. Uma das paredes ostentava um enorme, e original, segundo o guia, quadro de Rafael, certificado pela Fundação Rafael. Perguntei porque não mantinham as peças e o próprio prédio em bom estado e a resposta foi de que a maioria dos ricos não querem chamar a atenção do fisco, por isso a aparência geral de abandono.
Todos os palácios em que estive reproduziam o mesmo padrão: tudo meio fantasma. Descobri que existe até um livro cujo título é algo parecido com Os Palácios Esquecidos de Calcutá.
Estive também num dos mais lindos templos que já vi até hoje. Curiosamente, os templos mais ricos em decoração são sempre da religião Siki. Assim como o Templo Dourado de Amritsar, este também é bem cuidado e está em constante manutenção. Foi construído por um ricaço do negócio de joalheria e é todo feito em mosaicos de vidro. Zilhões de pedaços de vidro de todas as cores, assentados com absoluto rigor, formam um complexo harmônico, da arquitetura à decoração. Uma jóia mesmo.
O Templo de mosaico de vidros

O mercado de flores, ao lado do rio Ganges, que eles juram que aqui é limpo, mesmo estando vindo de Varanasi, aonde ele é conhecido como o rio mais sujo do mundo, é também uma atração interessante. A oferenda básica da religião hindu requer flores de variadas cores e formatos. Para cada Deus uma cor e uma flor diferentes. Com uma população beirando os dois bilhões de habitantes praticantes da religião, o mercado de flores é um excelente negócio para a economia do pais.
O mercado de flores

Outra atração da cidade é o New Market, no bairro muçulmano. É a feira do Paraguai elevada à enésima potência.
E fui bem até aqui.

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